terça-feira, 3 de novembro de 2009

Finados, mas também não Finados 01/11/2009

Finados é uma celebração litúrgica que remonta ao ano 998, quando Santo Odilon, abade de Clony, na França, determinou que em todos os mosteiros pertencentes à sua Abadia, fosse celebrado um dia especial dedicado aos mortos, logo após a Solenidade de Todos os Santos, no dia 2 de novembro. Essa iniciativa foi difundida em muitos países, sobretudo no Norte da Europa, até ser assumida pela Santa Sé em 1331. Finados é um vocábulo típico de nossa língua portuguesa, denso de fé, ternura e saudade para recordar aqueles que encerraram sua existência, sua missão na Terra. Finados para sempre? Certamente não, pois cremos que a vida continua após a morte, em Deus, além das fronteiras do tempo, numa dimensão de eternidade. Assim, professamos nossa fé no Símbolo Apostólico dizendo: “Creio na Vida Eterna” e no Símbolo Niceno-constantinopolitano dizendo: “E espero a vida do mundo que há de vir”. Finados, então, para a vida terrena, não para a Vida Eterna, a vida em plenitude. Diante da natural inquietude e medo diante da morte, a fé cristã nos assegura que a morte foi vencida pela ressurreição do Cristo, Filho de Deus e Salvador da humanidade. “Ó morte, onde está a tua vitória? Ó morte, onde está o teu aguilhão”? Esse é um trecho de uma oração das primeiras comunidades apostólicas, que se tornou Palavra de Deus escrita. (1 Cor 15, 55)

A ressurreição de Cristo ilumina as sombras da morte, essa dura realidade da qual ninguém pode fugir. A ressurreição de Cristo se situa nas Escrituras Sagradas como fundamento e penhor da ressurreição física e da imortalidade do corpo humano. O apóstolo Paulo é quem melhor explicita essa verdade da fé cristã. (cf. 1 Cor 15, 16-21)

É tão bonita, serena e cheia de poesia a linguagem de Cristo, seguida pelo apóstolo Paulo, quando se toma a imagem da semente para falar da ressurreição. “Se o grão de trigo que cai na terra não morrer, permanecerá só, mas se morrer produzirá fruto.” (Jo 12, 24)

“O que semeias não é o corpo da futura planta que deve nascer, mas um simples grão de trigo ou de qualquer outra espécie.” (1 Cor 15, 37)Se procurarmos na terra os grãos de trigo lançados pelo semeador, não mais os encontraremos, mas tão somente veremos o lindo trigal dourado que surgiu.

Como a planta é diferente, mas da mesma natureza da semente lançada, assim também acontece com a vida corporal após a morte. Francisco, Esdras, Cláudio, Cristóvão morreram? São eles mesmos que ressuscitarão para uma vida nova. O mistério da ressurreição dos mortos garante o primado da unidade indissolúvel da pessoa humana, sem romper sua individualidade e sua integridade psico-somática e espiritual. Pela ressurreição, o Senhor do tempo e da vida transformará o homem corporal e corruptível numa criatura incorruptível e imortal. O corpo passará a participar da imortalidade da alma. “Semeado corruptível, o corpo ressuscita incorruptível; semeado desprezível, ressuscita reluzente de glória; semeado na fraqueza, ressuscita cheio de força; semeado um corpo só com a vida natural, ressuscita um corpo espiritual”. (1 Cor 15, 42-44)

O mistério da ressurreição é a proclamação da grandeza e da dignidade do corpo humano destinado à imortalidade; é a afirmação do respeito irrestrito que lhe é devido. O corpo humano não pode, pois, ficar sujeito a nenhum tipo de exploração e degradação física e psíquica, moral e social. O humanismo cristão é sumamente enaltecido por esse mistério. Celebremos Finados, em afetiva comunhão espiritual com os que partiram desta vida, por eles e com eles orando num clima de fé e esperança, confortados ao pensarmos que aqueles que são Finados para esta vida, não são Finados para a Vida Eterna.

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