domingo, 23 de agosto de 2009

Recuo de Mercadante pode enfraquecer sua atuação política no Senado

GABRIELA GUERREIRO
MÁRCIO FALCÃO
da Folha Online, em Brasília
O recuo do senador Aloizio Mercadante (PT-SP) de renunciar à liderança do PT no Senado pode enfraquecer a sua atuação política dentro da Casa Legislativa.
A avaliação é de um grupo de senadores que acredita na redução de força política do líder depois que ele criticou publicamente a permanência do senador José Sarney (PMDB-AP) na presidência do Senado --mas acabou por atender um pedido do presidente Luiz Inácio Lula Silva e do deputado Ricardo Berzoini (PT-SP), que orientaram o PT a votar pró-Sarney no Conselho de Ética. O próprio senador admitiu, no discurso em que anunciou sua decisão, que perdeu parte de sua interlocução dentro do Senado depois do episódio que resultou no arquivamento dos processos contra Sarney.
"Eu disse à bancada [do PT] e pensei comigo: eu perdi uma certa condição de interlocução política nesta Casa, por exemplo com o presidente Sarney. É evidente. É muito mais difícil ser líder nessas condições, depois de uma crise como essa", afirmou.
O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) disse que Mercadante errou ao não ter se mantido firme na decisão de se afastar da liderança.
"Ele fica insignificante para o Senado. Foi o maior erro que ele cometeu. Ele poderia ser o reformador do PT, mas trocou essa oportunidade para continuar como líder de uma aliança do PT com Sarney, Renan [Calheiros] e [Fernando] Collor. Agora, ele fica sem a menor chance de contestação e terá como papel de líder ser o fiador dessa aliança", afirmou.
O senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) disse que foi "péssimo" para Mercadante recuar de sua decisão. Na opinião do peemedebista, o senador voltou atrás ao ser pressionado explicitamente pelo Palácio do Planalto.
"Eu não discuto a sinceridade dele, mas ele foi desautorizado pelo Planalto. Em uma situação de descrédito generalizado que existe hoje no país, as idas e vindas do Mercadante não contribuem", disse Jarbas.
O peemedebista afirmou que a imagem de Mercadante ficará arranhada dentro do Senado. "Mostra que o presidente Lula continua acima das instituições. Não vejo o episódio de forma positiva."
Para o senador Pedro Simon (PMDB-RS), Mercadante deve manter o discurso de que o PT errou ao absolver Sarney. Do contrário, o peemedebista disse que a imagem do petista ficará comprometida na instituição. "Ele só tem legitimidade se não se enquadrar. Ele pode até ficar sem poder, mas deve ficar com o discurso. Se ele se enquadrar, acabou o Mercadante", afirmou.
Simon classificou de "carta encomendada" a correspondência enviada esta manhã pelo presidente Lula para o líder petista. Mercadante leu a carta em plenário com o apelo do presidente para que ficasse no cargo. Simon disse que a carta foi uma espécie de "armação" já que o presidente não encaminharia algo que não fosse acatado pelo senador.


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