sábado, 5 de junho de 2010

O Potengi está morrendo aos poucos


Nível de poluentes mina fecundidade do rio. Além do dano ambiental, situação retira sustento dos
Razão do sofrimento de centenas de pescadores, a falta de peixes no Potengi tem explicação científica. A poluição do estuário está afetando a sobrevivência, fecundidade e reprodução de determinados organismos aquáticos. Foi o que pesquisadores da UFRN detectaram durante a realização da pesquisa "Diagnóstico das Cargas Poluentes dos Estuários dos Rios Potengi e Jundiaí", coordenada pelo professor do Departamento de Oceanografia e Limnologia da UFRN, Guilherme Fulgencio. O estudo, ainda em desenvolvimento, revelou altos níveis de toxicidade em alguns trechos dos rios Jundiaí e Potengi, que se juntam aos rios Golandim e Rio Doce e formam o estuário Potengi. A pesquisa, encomendada pelo Instituto de Defesa do Meio Ambiente (Idema), mostra que o lançamento de efluentes orgânicos e substâncias químicas está reduzindo a biodiversidade do estuário.
Gato come peixe que não serve para consumo humano, descartado pelos trabalhadores Foto: Fotos:Fábio Cortez/DN/D.A Press Por trás da constatação, um alerta. A morte de organismos em decorrência da poluição pode afetar a cadeia alimentar e causar sérios problemas ao ecossistema. Os pescadores ribeirinhos já sentem na pele os reflexos do alto nível de poluição (ver matéria na página 9). "Os recursos pesqueiros estão diminuindo, porque alguns organismos procuram o mangue para se abrigar, se alimentar e crescer e acabam morrendo devido aos altos índices de toxicidade", afirma o professor. O rio, assim como os pescadores ribeirinhos, está no limite do suportável. Qualquer descarga excessiva de resíduos orgânicos ou químicos pode abalar o aparente equilíbrio. A pesquisa revela um problema sério, que quase ninguém se dá conta. A dificuldade de reprodução dos organismos pode provocar a diminuição e até o desaparecimento de determinadas espécies. Os próprios pescadores ribeirinhos se queixam do desaparecimento de diferentes espécies de peixes e de crustáceos no manguezal e no estuário, como a saúna, o caranguejo-uçá e o aratu. "Devido aos altos índices de toxicidade, muitos organismos não vão conseguir se reproduzir", explicou o professor. Testes Para chegar a este resultado, os pesquisadores fizeram alguns testes com animais aquáticos, que foram denominados de organismos-teste na pesquisa. Eles coletaram amostras de água e sedimento (terra) em vários pontos do Potengi e do Jundiaí e levaram até o Laboratório de Ecotoxologia, no Departamento de Oceanografia e Limnologia da UFRN. Lá, eles colocaram os organismos-teste nas amostras colhidas e observaram a sobrevida dos animais aquáticos. Parte dos organismos não sobreviveu ao teste agudo (mais curto e que testa a sobrevivência), o que revelou o alto nível de toxicidade das amostras. Além disso, boa parte dos que sobreviveram apresentou problemas de fecundidade e dificuldade de reprodução durante o teste crônico, mais longo que o agudo e que analisa o impacto da carga tóxica no crescimento, reprodução, capacidade de sobrevivência e outras funções biológicas dos animais aquáticos em contato com as amostras. Guilherme Fulgencio também é co-orientador da pesquisa "Avaliação Ecotoxicológica dos Efluentes Lançados no Complexo Estuarino do Jundiaí-Potengi", que está sendo desenvolvida pela pesquisadora Sinara Cybelle Turíbio, da UFRN.

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