O vaqueiro
chorou vendo a ossada
do cavalo que a seca assassinou
do cavalo que a seca assassinou
Sete meses, meu bem, ele passou fora
Viajando para as
terras do Sudeste
Foi fugindo dessa
seca, dessa peste
Que lhe esmaga, lhe
aniquila e lhe devora.
Decidido, no entanto,
veio embora
Pra o sertão que o seu
peito sempre amou
Pois paixões, sua alma
aqui deixou
E chegando aqui, logo
na entrada,
O vaqueiro chorou
vendo a ossada
Do cavalo que a seca
assassinou.
Relembrou com saudade
os velhos dias
Sobre o amigo
perseguindo um boi bem brabo
Derrubando-o, na
faixa, pelo rabo
Recebendo aplausos em
honrarias.
Esqueceu-se, porém,
das alegrias
Vendo ali, sobre o
solo, o que sobrou
Do amigo fiel que
tanto amou
Num soluço da alma
alquebrada,
O vaqueiro chorou
vendo a ossada
Do cavalo que a seca
assassinou.
Nem os carinhos de sua
linda donzela
Lhe remiu da tristeza
ali presente
Nem o céu que
escureceu bem de repente
Atenuam a dor que lhe
martela.
Sem fugir da cena que
lhe flagela
O vaqueiro bem triste
aboiou
Quando a brisa, do
poente, forte soprou
E lhe trouxe a chuva
tão esperada,
O vaqueiro chorou
vendo a ossada
Do cavalo que a seca
assassinou.
Nem a água caindo lá
de cima
Com as lágrimas
molhando o seu rosto
Lhe tirou de tão
grande desgosto
De perder aquele por
quem lastima
No aboio, solitário,
uma última rima
Enquanto um raio,
caindo, lhe iluminou
Com sua voz, o trovão
se misturou
Dando mais tristeza à
cena enlutada,
O vaqueiro chorou
vendo a ossada
Do cavalo que a seca
assassinou.
Foi saindo devagar
daquele canto
Perdido nos devaneios
da lembrança
Consigo, mesmo assim,
leva esperança
Que Deus dê consolo ao
seu pranto.
A tristeza lhe cobria,
era seu manto
E na donzela amada ele
se apoiou
Dando um adeus inibido
ao que restou
Suspirando de saudade
na última olhada,
O vaqueiro chorou
vendo a ossada
Do cavalo que a seca
assassinou.
Sua dor se tornou a
mais plangente
Quando em casa abraçou
sua viola
Feito pássaro preso na
gaiola
Assobiando muito baixo
e bem dolente.
Sua rima se tornou sua
confidente
E em versos sua mágoa
assim gravou
Enfatizando o que pôde
e relembrou
Consternado e cantando
numa toada,
O vaqueiro chorou
vendo a ossada
Do Cavalo que a seca assassinou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário